Escola Politécnica

Formando engenheiros e líderes

Prof. Dr. Antonio Marcos de Aguirra Massola – 1998-2002

AntonioMarcosDeAguirraMassolaExercício: 1998 a 2002

Filho do médico Luciano Aléssio Massola, também farmacêutico e da professora primária, Sra. Idelazir Teixeira Massola, Antonio Marcos de Aguirra Massola nasceu no vilarejo de Pouso Alegre de Baixo, distante cerca de 10 quilômetros da Cidade de Jaú, às 5 horas da manhã do dia 2 de maio de 1944.

Na Escola Estadual Grupo Escolar Major Prado, em Jaú, freqüentou o jardim da infância e concluiu os estudos primários. Dessa época, paira a lembrança de que “durante a hora do almoço, fugia da escola para ir até em casa próximo dela, por um quarteirão de distância ”. Já o ginásio, foi cursado no colégio de padres Premonstatenses Colégio São Norberto, também em Jaú, onde além de ser estudante, desempenhava o papel de sineiro do Colégio, convocando os alunos para as diferentes aulas. No Ginásio Estadual Caetano Lourenço de Camargo, também em Jaú, fez o científico e, em 1963, decorrido um ano de cursinho no Anglo-Latino, na Rua Tamandaré, entrou para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

A despeito da incisiva torcida do pai para que seguisse, também a carreira de médico, Massola orientou-se por sua vocação. Os feitos da modernidade tecnológica na área de eletrônica e as construções o fascinavam, daí a opção pela engenharia. Ao contrário do irmão, que começara com a intenção de ser engenheiro, mas que para atender aos anseios do pai, cursou medicina na Faculdade de Medicina da USP na Avenida Dr. Arnaldo. Firmou-se assim na profissão de engenheiro, portanto, como o único engenheiro, até então da família.

Dentre os ramos da área, escolheu a Engenharia Elétrica por ser “mais vibrante e (…) é uma profissão que, na ocasião, era uma área de desafios do momento, a eletrônica principalmente. (…) E por isso eu escolhi de pronto a área elétrica.” (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

Na Escola conviveu inicialmente com um grupo reduzido de discentes que durante o primeiro ano ainda freqüentavam as aulas no prédio da rua Três Rios, a velha POLI.. Em realidade, Massola e seus colegas constituíram uma das primeiras turmas de formandos de Engenharia Elétrica na Politécnica, do recém criado “Campus” da Cidade Universitária.

O Golpe Militar de 1964 marcou o segundo ano letivo do curso. Foi um período conturbado e de intensa repressão refletida em muito no âmbito universitário. Àquela época, o então estudante participou da invasão do Residencial da USP, o CRUSP, sendo dali expulso com violência. Do episódio, sabe-se que diversos dos invasores, dentre os quais mesmo professores, foram reprimidos com força ou acabaram por desaparecer da vida universitária!

De sua experiência como aluno, guarda recordações dos professores que, sem dúvida, assinalaram presença importante na graduação. Dentre eles estão os docentes Professor Doutor Antonio Hélio Guerra Vieira – que o contratou para trabalhar na Poli em 1969-; Professor Luiz de Queiroz Orsini – catedrático da área de Engenharia Elétrica – que o acompanha até hoje e os professores Bahianas, Barradas e Jaime Gomes, todos do meio de telecomunicações, os quais lhe ofereceram sólido embasamento profissional, que foi seguido, aliás, não só naquele momento, mas no decorrer de toda a sua vida.

Além do que, junto aos colegas de faculdade, dedicou tempo à atividades produtivas – “Fomos o primeiro grupo a introduzir o uso intensivo do estêncil a álcool e colorido na Escola Politécnica. Nós tínhamos um jornal, chamava-se O Eletrônico, que era totalmente feito a quatro cores em estêncil a álcool” – e à formação de “redes de solidariedade” que em muito auxiliaram nos estudos dos companheiros da POLI no período de curso. “Então, foi no começo da nossa turma isso aí, em 1965, já no Prédio da Elétrica, que instituímos o que chamávamos de ”panela” dentro da Escola Politécnica. Grupos de colegas devidamente organizados por disciplinas e que tinham a incumbência de preparar apostilas das aulas ministradas e com amplas consultas aos parcos recursos bibliográficos que eram acessíveis na época. Esses grupos produziam essas apostilas, com base nas pesquisas que eram efetuadas nos livros da época e as apostilas eram distribuídas a todos os alunos da turma. Esse costume multiplicou-se também para as próximas turmas, até que apareceram procedimentos do tipo termo-fax ou xerox” (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

Em 1967, terminou o curso como Engenheiro Eletricista – modalidade eletrônica, passando a trabalhar na Comissão Nacional de Atividades Espaciais – atual Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – em São José dos Campos, onde foi responsável pela coleta de dados do satélite meteorológico ATS-3. Nessa empreitada, descobriu, por acaso que veículos DKW atrapalhavam o recebimento das fotos transmitidas pelo satélite e que eram recebidas nos equipamentos de rastreio da CNAE, deixando as fotografias com manchas pretas. A solução, “extremamente técnica” foi colocar nas portarias da CNAE placas com aviso de que veículos DKW deveriam desligar os motores quando estivessem sendo recebidas fotos com a passagem de satélite!

Durante os sete meses que ali empreendeu, inventou um sistema de proteção à raios para permitir com baixo custo remediar a constante queimas de equipamentos de recepção. No decorrer desse período ainda aproveitava os horários de folga para jogar bola com os colegas de trabalho, os buzuntas futebol clube, e, nos fins de semana, seguia rumo a Jaú, para encontrar-se com seus familiares e é claro com sua noiva Viviane, hoje sua esposa.

Após a rápida passagem pelo CNAE, ingressou nas Centrais Elétricas de São Paulo (CESP), atuou na área de telecomunicações, de modo mais específico em rádios VHF e UHF, e com o grupo de trabalho da empresa, realizou um “levantamento de microondas para a companhia, trabalho que era uma coisa inédita na época”, acompanhado também de grande mapeamento na área de telecomunicações do Estado de São Paulo. (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

O próximo passo de seu caminho profissional foi o Departamento de Eletricidade da Escola Politécnica de São Paulo. Com vistas ao mestrado, na vigência da diretoria do professor Oswaldo Fadigas Fontes Torres, tomou parte no Laboratório de Sistemas Digitais (LSD), então sob organização do professor Antonio Helio Guerra Vieira. Participou da elaboração e implantação de inúmeros projetos altamente tecnológicos e de pesquisa e teve participação marcante na instituição da FDTE – Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia, em 1972.

Em seguimento, consolidou a carreira na instituição, tanto que a partir da década de 1990 passou a desempenhar cargos administrativos, tais como a coordenação do Centro de Computação Eletrônica (CCE), a presidência da Comissão Central de Informática da USP, a diretoria do Sistema de Telecomunicações da USP, a vice diretoria da Escola Politécnica, a instituição da FUSP – Fundação de Apoio à USP e seu diretor executivo e, entre 1998 e 2002, a diretoria da Escola Politécnica.

A facilidade administrativa e de gerenciamento, segundo o professor, deveu-se à profissão de engenheiro, às bases de aprendizagem da Politécnica e ao conhecimento prático da gestão pública e política, a qual, na sua opinião, não se aprende na escola ou nos livros, mas na vivência diária com os problemas e suas soluções.

Nesse entremeio, diversos projetos dos quais participou trouxeram importantes contribuições ao Estado de São Paulo, dentre eles destacou-se “o primeiro computador nacional, o patinho feio (…). Depois a implementação de uma central telefônica a programa armazenado, que foi a primeira central do país a fazer uma ligação DDI. Era a central 214 de São Paulo, (…) da Companhia Telefônica, e fizemos o projeto do mini-computador para as fragatas compradas da Inglaterra, o chamado projeto Guaranys – G10. Tive também a participação no sistema de atendimento de emergência,os “Call-Box”, que foi utilizado tanto na rodovia dos Bandeirantes, que era chamada de via norte (…), e também na rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna. Esse sistema permanece nesta rodovia até hoje. Há mais de trinta anos. Outro trabalho importante foi o projeto de automação da fábrica da ALCAN, em Pindamonhangaba. O sistema de supervisão e controle da rede de distribuição de energia da CESP, no Guarujá, o controle e supervisão de subestações da CESP(..).” (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

O Programa Disque Tecnologia por ele idealizado é prova marcante de sua visão futurista. Os Programas PURA – Programa de Uso Racional de Água e PURE – Programa de Uso Racional de Energia também refletem a preocupação das equipes que os desenvolvem e os tornam realidade, pelos cuidados na conservação do meio ambiente e do erário público.

O planejamento, implantação e operacionalização do “Campus” universitário de Cubatão foi outro marcante desafio que abraçou. O novo sistema de ensino ali implantado foi o desafiador e inédito Curso Cooperativo. Esta modalidade de ensino, desenvolve-se quer na universidade, quer na empresa, alternando-se a cada quatro meses. É um curso quadrimestral com ampla formação técnica e profissional do aluno. Com os cursos de Engenharia da Computação, Engenharia Química e Engenharia de Produção, o programa contava com a participação da prefeitura da cidade, do governo estadual (através da Secretaria de Ciência e Tecnologia) e da USP, através da Escola Politécnica.. Funcionou plenamente entre 1989 e 1995 quando, por problemas políticos, os cursos foram transferidos para a Cidade Universitária, bem como todos os alunos que do mesmo participavam. Prosseguem normalmente na Escola Politécnica e constituem-se na opção mais procurada pelos alunos da Escola.

Não obstante as problemáticas que envolveram a experiência de Cubatão, o mestre Massola imagina a Politécnica “todinha cooperativa. Mas não conseguí como diretor implantar tal esquema na Escola por dificuldades de fazer os nossos docentes compreenderem uma nova realidade…. Acredito porém que é a opção de curso do futuro! Não é mais a atual engenharia convencional nos cursos que estamos fazendo. Eu imaginaria um pouquinho mais. Acrescentar ao curso da escola um pouco mais de disciplinas de humanidades , disciplina de ética profissional, coisa que está faltando ainda na Escola. Tudo isso, faz parte desse contexto, e o curso cooperativo dá uma vivência muito grande ao aluno para o seu relacionamento com a sociedade e mesmo com a comunidade. Então, por isso acho que o curso cooperativo será a grande aposta para o futuro.(NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

Nesse sentido, corrobora seu papel de docente em preparar verdadeiros cidadãos. Missão essa, em suas palavras, difícil na medida em que para ser professor você tem que saber orientar aqueles que vão seguir na vida para que o façam com racionalidade e com objetivos bem definidos. A profissão de professor é de extrema dedicação e de trato com os alunos, procurando descobrir o que estes pensam e querem, como conduzir uma dada aula, preocupar-se se o pessoal aprendeu ou não,e tantas outras ações. Então, isso é que é ser um professor. É efetivamente um sacerdócio. Diferente de sua formação como engenheiro.” (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

Por outro lado, de acordo com seu ideário, o ofício de engenheiro implica em ir além do que é ensinado nos bancos escolares. Sem dúvida, a formação ali imputada é palpável e importante, mas o aprendizado-mor é aquele que a vida proporciona. “Porque nem sempre aquilo que você pretendeu fazer é o que você vai fazer. Você não vai mudar a filosofia de um país, nem a filosofia de um estado. (…) Mas enquadrando-se dentro daquilo que você acha que pode fazer!” (NAKATA, Vera Lucia M., TORRE, Silvia Regina S. Della e LIMA, Igor Renato M. de. Entrevista com o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, 2003).

Atualmente, o professor Massola concentra sua dedicação à COESF – Coordenadoria do Espaço Físico da Universidade de São Paulo. O cerne de seu trabalho encontra-se nas atividades a serem materializadas para que toda uma comunidade acadêmica, possa desfrutar e executar suas atividades.

Ultrapassando os limites da administração pública, Antonio Marcos de Aguirra Massola é homem afeito à família. Procura conciliar o tempo, não deixando de dedicar atenção à família, esposa e filhos e tendo um carinho todo especial para com seus netos.